Invariavelmente, todo ser vivo na sua trajetória de
nascer, crescer, envelhecer e morrer segue naturalmente uma ordem lógica de
desenvolvimento de habilidades motoras e psicomotricidade. Seres humanos
nascem, rolam, levantam a cabeça, ficam de quatro, engatinham, ficam de pé
procurando equilíbrio, andam, correm, saltam e arremessam.
No decorrer desse crescimento natural, se não houver uma
tentativa de adiantar o processo ou não ocorrer traumas, as habilidades motoras
serão bem desenvolvidas, tudo há seu tempo, aperfeiçoando o sistema nervoso
central. Se todo o processo de desenvolvimento natural não for interrompido,
qualquer ser humano será capaz de exercer com o mínimo de esforço as atividades
funcionais.
Na fase de engatinhar, a criança ao tentar se levantar
quase sempre começa de frente; depois percebe que não é possível, rola de lado,
para em seguida ficar de quatro. É nessa fase que criança fortalece o abdome e
não vai andar antes de um fortalecimento mínimo de toda a região central do
corpo. Ou seja, existe uma progressão de desenvolvimento natural estabelecida
pela natureza e que a ciência chama de desenvolvimento cognitivo.
As respostas motoras obedecem à capacidade do
desenvolvimento físico e mental. Os músculos e ligamentos dos pés, por exemplo,
começam a ser aperfeiçoado quando a criança, principalmente descalça, começa a
tentar ficar de pé, exercendo força de agarre com os pés contra o solo. É esse
movimento reflexo de sensibilidade que vai permitir a formação da estrutura dos
pés, tão importante para o equilíbrio e futuramente para corre e saltar com
facilidade.
No Brasil o número de corredores fundistas tem aumentado
em proporções geométricas com as lesões geralmente acompanhando esse batalhão
de novos adeptos. Entretanto, parte dessas lesões se deve à falta de um
treinamento chamado funcional, voltado ao fortalecimento da estrutura central
do corpo, que envolve a parte baixa do abdome, quadril, pernas e pés.
RESGATE DO TREINAMENTO FUNCIONAL
O treinamento
chamado funcional visa justamente resgatar o estímulo, a flexibilidade e o
equilíbrio perdido desses grupos musculares ou mesmo pequenos músculos que
servem de base para um determinado movimento. O que não se usa atrofia e o que
se usa em excesso ou com postura inadequada desgasta. Um adulto que não
consegue se levantar do chão sem o uso das mãos ou que não consegue vestir as
calças em pé já perdeu quase 20% da sua flexibilidade e equilíbrio. Por isso um
dos treinamentos mais naturais de manter a flexibilidade é exatamente esse:
vestir as calças em pé.
No esporte também acontece isso. A maioria dos
treinadores se preocupa muito com a repetição do gesto esportivo e uma parcela
dos corredores quer apenas correr e com isso fortalece apenas os músculos
atuantes, deixando os mais fortes cada vez mais fortes e os mais fracos cada vez
mais fracos. Por essa razão é comum, corredores ficarem doloridos ao executar
uma tarefa que não faz parte do seu dia a dia, ou mesmo ao praticar um esporte
que não estão acostumados.
O treinamento funcional é um tipo de exercício que traz
bons resultados, sendo feito com bola suíça, elásticos, bases instáveis, a boa
e antiga medicine ball (bola grande e pesada), tudo visando o estímulo da
propriocepção, a correção postural, o fortalecimento muscular, o equilíbrio e o
relaxamento.
As superfícies instáveis, como a bola suíça e a cama
elástica, acabam recrutando músculos estabilizadores mais profundos em qualquer
exercício nelas executado. Várias modalidades esportivas estão descobrindo essa
técnica, que já existia na fisioterapia e que, popularizada nas academias, têm
colaborado com a redução do índice de lesões.
Alguns acessórios
usados no treinamento funcional
REGIÃO MAIS BENEFICIADA.
O treinamento funcional pode ser aplicado a todos os
segmentos sociais, desde as pessoas comuns até as diversas práticas esportivas.
É uma ginástica completa, explorando todos os movimentos possíveis em cada
articulação e grupos musculares. Antes de sugerir alguns exercícios funcionais
com bola suíça, três informações importantes.
O CORE: O foco do treinamento funcional é o
fortalecimento dos músculos mais profundos do tronco e quadril, o chamado
"core", termo inglês que significa núcleo. A transferência de força, gerando
qualquer movimento, seja com as pernas ou combinado com os outros segmentos
corporais, depende da qualidade dessa estrutura muscular. A criança não anda
sem essa musculatura estar desenvolvida. O futebolista não chuta forte, o
corredor não corre sem ter lesões, o ciclista não pedala bem sem os músculos do
core bem treinados.
O MAP: Fazendo parte dessa importante região do
corpo e que pouca importância se dá em todo tipo de ginástica estão os músculos
do "assoalho pélvico" (MAP), responsáveis pelo controle urinário,
fecal e sexual. Eles ficam situados na parte inferior da bacia, formando uma
espécie de funil bem no meio das pernas. Esses músculos, assim como qualquer
outro do corpo, se não estimulados ou treinados ficam fracos e sensíveis ao ato
de tossir, espirrar ou pegar peso sem os devidos cuidados técnicos.
Da mesma forma, sabendo-se que a corrida de fundo gera
um impacto de duas a três vezes o peso corporal, essa região enfraquecida pode
gerar dores normalmente confundidas com outros tipos de lesões. Podem também
ficar enfraquecidos após cirurgias de próstata ou parto, seja natural ou
cesariana. São também sensíveis à pressão intra-abdominal na execução de
exercícios de musculação com respiração inadequada. O treinamento funcional
específico conjugado com a retroversão do quadril e os abdominais visa
fortalecer o MAP.
O CG: Qualquer objeto e também qualquer corpo tem
um centro de equilíbrio em que a soma das forças internas se equilibram com as
externas, que no corpo humano na posição ortostática (em pé) fica um pouco
acima da linha do quadril, ou seja, no core, considerando um indivíduo normal.
Quando há qualquer desvio postural, sobrepeso ou protusão do abdome, o centro
de gravidade (CG) muda, gerando conseqüências imprevisíveis nas articulações do
quadril, joelho e tornozelos, que passam a trabalhar de forma inadequada para
realinhar o corpo.
Entre os fatores que podem ameaçar o equilíbrio estão a
fraqueza muscular e a diminuição da propriocepção. Daí a importância da
perfeita noção do equilíbrio em qualquer movimento feito pelo corpo humano,
desde os mais simples como a marcha, até os gestos esportivos mais complexos. O
treinamento funcional visa também restabelecer o equilíbrio do corpo.
DEZ VANTAGENS DO
TREINAMENTO FUNCIONAL
1) Melhora da resistência muscular, da flexibilidade e
da força como um todo.
2) Melhora da postura e da auto-estima.
3) Diminui o índice de lesões, tanto em atletas como em
pessoas comuns.
4) Melhora do rendimento esportivo, desde os amadores
até os de alto rendimento.
5) Melhora do equilíbrio e coordenação motora.
6) Diminui os problemas de dores nas costas e problemas
de coluna relacionados ao trabalho.
7) Melhora da propriocepção e da psicomotricidade.
8) Melhor domínio de movimentos, desde os mais simples
até os mais complexos.
9) Melhor domínio da noção espacial.
10) Recrutamento de maior número de fibras musculares e
unidades motoras por grupos musculares.
Fonte: Revista contra o
relógio